O que é AUTISMO ou TEA (Transtorno do Espectro do Autismo)?
Dra. Graziela Michelan*
O autismo é um distúrbio do desenvolvimento infantil caracterizado por um déficit na interação social visualizado pela inabilidade em relacionar-se com o outro, usualmente combinado com déficits de linguagem e alterações de comportamento.
O termo “autismo” foi introduzido na psiquiatria por Plouller, em 1906, como item descritivo do sinal clínico de isolamento (encenado pela repetição de auto-referência) frequente em alguns casos.
Em 1943, Kanner descreveu, sob o nome de Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo, um quadro caracterizado por isolamento extremo, obsessividade, estereotipias e ecolalia (que é a repetição sistemática de palavras ou sílabas do enunciado do interlocutor), mas este conjunto de sinais foi associado a fenômenos da linha esquizofrênica.
O conceito do Autismo se modificou desde a sua descrição inicial e passou a ser agrupado em um contínuo de condições com as quais guarda várias similaridades, que passaram a ser denominadas de Transtornos Globais (ou Invasivos) do Desenvolvimento (TGD) e esta denominação esta presente até hoje no Código Internacional de Doenças (CID-10).
O autismo é considerado uma síndrome neuropsiquiátrica. Embora uma etiologia específica não tenha sido identificada, estudos sugerem a presença de alguns fatores genéticos, com uma herdabilidade estimada em 90%, e neurobiológicos (anomalia anatômica ou fisiológica do SNC; problemas constitucionais inatos, predeterminados biologicamente).
O quadro inicia antes dos 3 anos de idade, com predomínio maior em indivíduos do sexo masculino (com razão de 4 casos de autismo do sexo masculino para 1 caso do sexo feminino) e 70% dos casos são associados com retardo mental ou déficit intelectual. A prevalência é estimada em um a cada 88 nascimentos (Centers for Disease Control and Prevention, 2012), confirmando que o autismo tem se tornado um dos transtornos do desenvolvimento mais comuns.
O TEA caracteriza-se por anormalidades qualitativamente graves, invasivas e abrangentes do desenvolvimento normal. Essas anormalidades são expressas por comprometimentos que se manifestam em três áreas do desenvolvimento:
– Interação social recíproca;
– Linguagem e comunicação;
– Presença ou repertório de comportamentos e interesses restritos, repetitivos e estereotipados.
O diagnóstico do autismo é essencialmente clínico e é feito a partir das observações da criança. A identificação de sinais iniciais de problemas do desenvolvimento possibilita a instauração imediata de intervenções extremamente importantes, uma vez que os resultados positivos em resposta a terapias são tão mais significativos quanto mais precocemente instituídos. Nos primeiros anos de vida de um bebê as estruturas anátomo-fisiológicas de cérebro têm maior plasticidade e torna este período um momento sensível e privilegiado para intervenções. Assim, as intervenções precoces em casos de TEA têm maior eficácia.
Os tratamentos incluem intervenções psicossociais e educacionais, com o objetivo de maximizar a aquisição da linguagem, melhorar as habilidades sociais e comunicativas e acabar com comportamentos mal-adaptativos. Nas crianças pequenas, a prioridade é a terapia da fala/comunicação, da interação social, educação especial e suporte familiar; nos adolescentes, os grupos de habilidades sociais, sexualidade e terapia ocupacional; nos adultos, as questões de moradia/níveis de independência e tutela.
É importante esclarecer que o quadro do autismo é uma “síndrome”, que significa “um conjunto de sinais clínicos”; conjunto que define uma certa condição de vida diferente daquela até então experimentada pela família, e que impõe cuidados e rotinas diferenciadas. Esses cuidados serão compartilhados pela equipe profissional responsável pelo tratamento e a família, ou seja, a família não está sozinha neste processo, e terá respeitada sua autonomia na tomada das decisões. Nunca esquecendo que o diagnóstico e a intervenção precoce do TEA são de fundamental importância para o sucesso no desenvolvimento sistemático da sociabilidade, linguagem e comunicação durante as diversas fases da vida.
A Coordenadora do Programa de Atendimento Infantil Psicossocial e Pessoa com Deficiência Sonia Soares orienta que a porta de entrada para o programa é a unidade de saúde. Explica que: o (a) paciente passa pelo clinico geral que encaminha para consulta em Psiquiatria ou Psicologia, a solicitação é deixada na unidade de saúde para aguardar vaga via Sistema de Regulação. Na atualidade os pais procuram por atendimento especializado quando percebem algum comportamento que precisa de intervenção e os diagnósticos precoces são de suma importância para o desenvolvimento infantil.
* Graziela Michelan é médica psiquiatra do Programa de Atendimento Infantil Psicossocial e Pessoa com Deficiência da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Dourados.